Abr, 2024 | Publicações

“Recordai vos dos vo ssos guias, que vos anunciaram a Palavra de Deus; observai o êxito da sua conduta e imitai a sua fé. Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e pelos séculos” (Hebr 13, 7 8).

Introduzo a minha reflexão com estas palavras da Bíblia porque as sinto particularmente estimulantes, ajudam-me a voltar às raízes da nossa história CM e a fazer memória da hereditariedade que o Pe. Albino nos deixou.

 Recordar hoje o Pe. Albino à distância de dez anos da sua morte significa para mim revisitar também a minha vida na CM, tirar o pó e desenvolver um longo percurso de colaboração e comunhão traçado por um rasto luminoso de fé.

  • Este é o tempo para fazer uma pausa em silêncio, procurar um clima e um olhar contemplativo para colher os frutos que surgem das mesmas raízes.
  • É reconhecer como a minha vida foi fortalecida, guiada e rejuvenescida pela presença, pelo exemplo do Pe. Albino, até na última etapa da sua vida.
  • É tirar o pó da marca do Espírito que sempre animou a sua vida: sobre a pegada do abandono, da oblação, do ecce venio – ecce ancilla, da humildade, da fidelidade, da comunhão, etc. Semeou abundantemente este mesmo espírito dentro e fora da sua Companhia Missionária do Coração de Jesus. O Pe. Albino amou-a verdadeiramente “desde o nascer até o pôr do sol” e louvou o Senhor com a sua vida.
  • É como reabrir o “cofre” onde se conservam as coisas mais preciosas e descobrir que em última análise não se está a falar de morte, mas de VIDA.

Destas recordações valorizo algumas que fazem parte de uma hereditariedade e de uma raiz CM comum.

 

Na sede central da CM de Bolonha, em via Guidotti, para quem tem o olhar atento poderá encontrar, além das pessoas que ali habitam ou que passam, objetos, escritos, lugares que falam da hereditariedade do Pe. Albino. A minha atenção hoje detém-se na sala de jantar, onde encontramos pendurado na parede um quadro muito significativo que no seu interior contém um pano bordado à mão por Lúcia Correia. A sua composição exigiu certamente um trabalho lento, atento, paciente, precisão e tempo. As palavras escritas e depois bordadas não são apenas simbólicas, o seu significado para nós é muito mais profundo: “espírito missionário, solidariedade, simplicidade, amor, oblação, comunhão…”. Palavras sábias, proféticas, vitais, porque gravadas não só sobre a tela, mas também no concreto do nosso quotidiano. Palavras ligadas à raiz que evocam o carisma da CM e a nossa pertença. Palavras que nos sacodem, nos desafiam, nos interpelam. Lendo-as descobrimos que aqueles nomes escritos e bordados em diferentes línguas, são sementes daquela raiz comum que levamos dentro, que fizeram crescer a nossa vida e o nosso estilo de vida. Fazem parte de um património espiritual, uma herança que continua no tempo e nos mantém fiéis ao passado, presente e futuro.

 

O carisma que recebemos vive em nós e é a linfa que sustenta o nosso caminho. Sentimos que é uma realidade dinâmica que manifesta vida, energia, audácia e paixão, não obstante os nossos limites e a nossa incoerência. Um desafio que aceitámos e que nos permitiu imergir em profundidade na experiência do fundador. Sentimo-nos chamadas a viver uma disponibilidade permanente na escuta do Espírito e de todos aqueles que caminham connosco. Sintamos que o dom que o Senhor nos deu no início é renovado, em cada dia, com aquela criatividade e novidade que o Espírito nos sugere.

Olhar longe”… tem sido desde o início do caminho da CM um slogan, um lema, que o Pe. Albino nos transmitiu desde a formação inicial e que fez vibrar as nossas vidas, até alcançarmos uma progressiva internacionalidade.

Na realidade CM hoje encontro a missionariedade presente nos rostos das pessoas e na vida de cada grupo, frutos crescidos da mesma raiz. Cada realidade fez o seu caminho na fidelidade e criatividade. Gosto de fazer emergir, para cada nação, uma palavra-chave que assinale a sua especificidade, característica, com a qual desenvolveu e fez crescer a hereditariedade.

A terra deu o seu fruto, Deus, o nosso Deus, nos abençoa e seu temor chegue até aos confins da terra…”(Sl 67,7-8).

Itália: “fundação: graça dos inícios” – Portugal: “frescura” – Moçambique: “missionariedade” – Brasil: “audácia” – Chile: “perseverança” – Argentina: “comunhão” – Guiné-Bissau: “simplicidade” – Indonésia: “fidelidade”.

O décimo aniversário da morte do Pe. Albino pode tornar-se um motivo importante para reavivar o nosso carisma, para que aquele dom que o Senhor nos deu no início seja renovado em cada dia, concretizado. 

 A minha reflexão faz emergir apenas uma parte do que contém o “cofre” que citei no início, ou seja, a hereditariedade do Pe. Albino. Procurei concretizá-la com algumas palavras-chave nas quais revivemos a nossa fidelidade. É um caminhar juntos rumo a um horizonte comum, por isso devemos cuidar uns dos outros. Uma frase preciosa que o Pe. Albino nos deixou: “Perdei tudo, mas não percais a caridade”, pode ser um estímulo de renovada confiança em acreditar que neste caminho nunca estaremos sozinhos.
Exprimo a minha gratidão ao Senhor e ao Pe. Albino com a mesma frase que aparece na imagem que nos foi dada após a sua morte:

“Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos” (Mt, 11,25-26).

Santina Pirovano, missionária italiana
Bolonha, 29 de janeiro de 2024

Outros Artigos